Você já viu as bitucas de cigarro poluindo uma praia? Um grupo de seis alunas de mestrado do Programa de Ecologia Aquática e Pesca (PPGEAP) da Universidade Federal do Pará (UFPA) fez, na última sexta-feira, 15 de junho, um diagnóstico para identificar ao longo da praia principal da vila de Jericoacoara a presença de bitucas de cigarros, através de um cuidadoso delineamento amostral que permitiu conhecer onde havia maior concentração desse tipo de lixo. 

O resultado revelou que as áreas próximas às barracas de bebidas e espreguiçadeiras são as que contêm maior quantidade de resto de cigarros. O trabalho foi coordenado pelo professor Doutor Tommaso Giarrizzo, em parceria com a equipe do ponto focal do Pará do projeto Meros do Brasil, e contou com o apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no Parque Nacional de Jericoacoara.

As alunas do PPGEAP fizeram 200 amostras ao longo da praia principal de Jericoacoara e contabilizaram cerca de 900 bitucas de cigarro. "Muita gente não faz ideia de que um dos lixos mais comuns de praia, as bitucas de cigarro, demoram de um a dois anos para se decompor e que é toxico para organismos aquáticos entre os quais peixes e aves", detalhou o professor. Ele contou que essa foi uma das atividades do curso Disciplina de Campo em Ecologia Aquática, que faz parte do Mestrado do PPGEAP, e que vai ajudar os gestores do parque e a prefeitura de Jijoca de Jericoacoara a programar ações de educação ambiental para efetivar uma coleta específica para esse tipo de lixo. "O diagnóstico vai auxiliar a promover uma limpeza direcionada, que pode ser a instalação de porta-bitucas em algumas áreas da praia", comentou o professor. 

Texto e fotos: Micheline Ferreira

O Projeto Meros do Brasil – Ponto Focal Pará, levou capacitação para mais de 20 estudantes de universidades públicas e privada na manhã desta sexta-feira, 11 de maio, durante a realização do I Workshop de Capacitação do Ponto Focal Pará, que aconteceu na Universidade Federal do Pará (UFPA).

A coordenadora da área, Professora Dra. Bianca Bentes, ressaltou que “este passo inicial reuniu toda a equipe que vai trabalhar nessa missão”. O grupo vai direcionar esforços para a coleta de dados etnoecológicos, ou seja, quem tem origem no conhecimento ecológico local das populações tradicionais de pescadores sobre a biologia e ecologia de Epinephelus itajara, o mero. “A ideia é pulverizar conhecimento, formar esses alunos para que atuem em atividades de campo catalogando as informações que a gente pretende investigar. Na verdade, a ideia do projeto Meros do Brasil vai muito além da ideia de educação ambiental. Estamos trabalhando agora a parte científica na costa Norte do Brasil”, destacou.

Bianca Bentes contou que o Projeto Meros do Brasil vem experimentando um crescimento significativo sob todos os aspectos. Até meados de 2013, o desenvolvimento do projeto estava mais direcionado para estados no Sul e parte do Sudeste do país, com dois pontos focais no Nordeste. “No Pará, éramos um pontinho apenas. Mas agora estamos fortalecendo nossas ações e atuação, reunindo parceiros importantes como o Museu Goeldi, a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e a Universidade da Amazônia (Unama)”, pontuou, realçando que a ampliação vai favorecer o aumento da área de estudo, pesquisa, conservação, a partir da definição de metodologias para “se chegar aos resultados pretendidos”.

As metas e resultados são bem claros e definidos.  A coordenadora relata que “como o mero é uma espécie extremamente sensível tanto à atividade pesqueira quanto atividade recreativa, a ideia primeiramente, com o estudo etnoecológico, é definir as áreas de agregação”. “O mero é um bicho que forma cardumes para reprodução, então ele fica ainda mais vulnerável às atividades pesqueira e turística. Queremos identificar essas áreas por meio do conhecimento ecológico local, com pescadores e comunidades tradicionais. A partir daí, vamos validar essas áreas, porque não são áreas perenes, são áreas que são temporárias”, esclareceu.

Depois de identificar, o grupo vai trabalhar na conservação desses pontos, mas sem esquecer da educação ambiental, promovendo a conscientização sobre a conservação dos meros. “Temos muita resistência por parte do setor pesqueiro, inclusive pela pesca de larga escala, que é a que causa um impacto muito grande. O nosso maior desafio vai ser esse, sensibilizar e fazer com que este setor saiba que a ação deles é muito impactante”, completou Bianca.

O supervisor do Ponto Focal Pará, professor Dr. Tommaso Giarrizzo, acredita que capacitações como a que ocorreu nesta sexta, 11 de maio, permite que o projeto não fique restrito à realização de pesquisa ou faça a educação ambiental. “O maior ganho é essa preocupação também na formação de alunos, a partir de técnicas que não são comumente passadas durante a graduação”, replicou.

Tommaso Giarrizzo explicou ainda que essas atividades serão realizadas periodicamente para aprimorar continuamente o repasse de métodos e técnicas, possibilitando que os estudantes estejam sempre habilitados e aptos para atuar no Projeto Meros do Brasil, e que até mesmo possam replicar essas técnicas em outros projetos que tenham relevância para a conservação. “A essência é essa, de envolver alunos de diferentes universidades, e não apenas da UFPA, mas até mesmo universidades particulares, movimentando uma comunidade acadêmica abrangente, e a partir daí, produzir conhecimento em trabalhos de conclusão de cursos, mestrados, com dados que serão gerados pelo Projeto Meros do Brasil”, sublinhou o supervisor.

O Projeto Meros do Brasil conta com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. “Não podemos esquecer que esse patrocínio está sendo a alavanca para desenvolvermos pesquisas inéditas. Iniciativas como essa contribuem com a pesquisa e a conservação de espécies. A iniciativa é louvável e outras empresas de grande porte deveriam seguir esse exemplo. Sem o apoio da Petrobras a gente não teria como fazer nada. Através desse apoio, a Petrobras mostra que está comprometida com os processos ambientais também”, finalizou a coordenadora do Ponto Focal Pará.

Texto: Micheline Ferreira

Fotos: Micheline Ferreira