Qual o impacto que o tráfego constante de carros pode provocar no Parque Nacional de Jericoacoara? Essa é uma das perguntas que terão finalmente resposta com a conclusão dos estudos, a partir das amostras de sedimentos, que estão sendo avaliadas por um grupo de estudantes da disciplina Curso de Campo, do Programa de Pós Graduação em Ecologia Aquática e Pesca (PPGEAP), da Universidade Federal do Pará (UFPA).

O estudo deve ser concluído no inicio do segundo semestre  de 2018, segundo o Professor Doutor Tommaso Giarrizzo, que ministrou a disciplina no mês de março, com o auxílio dos monitores Fabíola Seabra e Oswaldo Junior, além dos apoios operacional e logísticos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Secretaria de Meio Ambiente e Turismo da Prefeitura Municipal de Jijoca e Cooperjeri.

O trecho amostrado e que vai esclarecer sobre o impacto de carros, motos, caminhões e jardineiras compreende aquele que vai da vila do Preá até a vila de Jericoacoara. A intenção é verificar se a compactação contínua do sedimento, a partir desse tráfego diário e permanente, reduz ou mantém a mesma quantidade de invertebrados aquáticos, ou se este número sofre alguma alteração, provocando composição diferente em função do trânsito frequente.

Tommaso Giarrizzo espera  que o estudo vai permitir ter uma leitura sobre um eventual impacto ambiental dentro do parque nacional. “Fizemos coleta de amostras de sedimentos nas quais são encontrados invertebrados aquáticos, e vamos comparar a composição, abundância e riqueza tanto nas amostras das praias onde passam carros como nas áreas onde não passam”, relatou.

Os estudantes de Mestrado do PPGEAP vivenciaram a prática de amostragens de invertebrados aquáticos, de peixes, além da estrutura de vegetação e presença de resíduos sólidos trazidos pelo mar, o lixo marinho. Todos os resultados dessas atividades têm como objetivo, também, auxiliar na gestão do parque, já que serão produzidos indicadores de como estão as diversas áreas protegidas, mas que nelas existem vilarejos como Jericoacoara, Preá, Lagoas Azul e do Paraíso, etc.

Outro estudo que foi realizado diz respeito ao primeiro registro da tilapia, peixe da familia Cichlidae, de água doce, nativo da África e que se tornou uma espécie invasora nas Américas do Norte e Sul. O peixe foi encontrado dentro do parque, o que segundo o professor Tommaso Giarrizzo ocorreu em razão do rompimento de um tanque de cultivo em ambientes naturais.  A tilápia é cultivada no país através de piscicultura.

O grupo de estudantes também fez o resgate de cavalos marinhos em uma área de lagoa que sofreu repentina drenagem. De forma inesperada, uma lagoa teve a barra de contenção rompida e secou em apenas três horas deixando peixes e outras espécies fora da água. Mas graças à rápida e eficiente ação dos mestrandos da UFPA os danos foram minimizados. “Não podíamos soltar os cavalos marinhos no mar porque não teriam como sobreviver. Então a equipe da disciplina fez o resgate e realocou os cavalos marinhos no mangue da região, que ficava a 25 km de onde ocorreu o fato, em parceria com o ICMBio, e onde já sabíamos que lá se tratava de um habitat apropriado para a espécie”, explicou o ministrante da disciplina Curso de Campo.

Outra atividade bem produtiva para os estudantes foi a análise da estrutura do bosque de mangue do parque nacional, no qual puderam avaliar desde o tamanho das árvores até mesmo a composição ao longo de um trecho de um canal de maré, que tem grande relevância e onde é realizada extensiva atividade de ecoturismo. Durante todos os dias em que estiveram em Jericoacoara, o grupo promoveu seminários para debater e estudar as várias situações encontradas durante as coletas e pesquisas. “Agora estamos na fase de analisar as amostras e depois vamos partir para a produção de relatórios, que serão publicados em revistas nacionais e internacionais, mas que principalmente serão encaminhados para os gestores dos órgãos competentes do parque nacional”, finalizou Tommaso Giarrizzo.

Texto: Micheline Ferreira

 

14/03/2018 •  às 09:00 horas  sala MAT 05 (ICB UFPA)

PALESTRANTE: Leandro Castello, Department of Fish & Wildlife Conservation, Virginia Polytechnic Institute and State University, Blacksburg, Virginia, USA

"Os recursos pesqueiros da bacia amazônica são diversos e valiosos. Muitas espécies de peixes aproveitam a sazonalidade das águas do rio para migrar lateralmente de lagos e canais de rios para os hábitat vegetados das planícies de inundação. As boas condições dos habitats da planície de inundação como locais de alimentação e berçário contribuem para o incremento da biomassa dos peixes e permitem que os ribeirinhos mantenham dentre as maiores taxas de consumo de peixe per capita do mundo. No entanto, as pescarias da Amazônia estão sofrendo vários impactos humanos crescentes e adversos. A perda de habitat crítico para os peixes, devido ao desmatamento das planícies de inundação afeta os rendimentos da pesca artesanal multiespecífica que ali se realiza. Um perda de um por cento da floresta causaum declínio de cinco por cento no rendimento das pescarias. As inundações e as secas do ciclo hidrológico do rio aumentam e diminuem, respectivamente, a quantidade de biomassa de peixe disponível para a captura. Por tanto, alterações hidrológicas do rio devido ao desmatamento, construção de barragens e mudanças climáticas podem também diminuir os rendimentos pesqueiros. A dependência da produção de pescado da conservação dos habitats de planície de inundação e da integridade hidrologia do rio foi investigada em detalhes para Arapaima sp, o pirarucu. Esta espécie sustenta uma das pescarias mais antigas da bacia. Arapaima tem sido historicamente intensamente capturada e por isso está extinta em algumas regiões devido à falta de cumprimento das regulamentações de gestão existentes. O comportamento da espécie que apresenta respiração aérea obrigatória permitiu que os pescadores especialistas na sua captura pudessem realizar contagens e assim determinarem cotas de pesca "sustentáveis". A eficácia da gestão do pirarucu com base nas contagens tem levado a centenas de comunidades de pescadores a se envolverem na gestão baseada na comunidade de recursos de peixes. Embora a gestão comunitária das pesca possa reduzir a sobreexplotação de alguns táxons, os impactos nas pescarias causados por mudanças na hidrologia dos rios e pela perda de habitat das planícies de inundação permanecem ainda sem solução." (por Leandro Castello)