O Projeto Meros do Brasil – Ponto Focal Pará, levou capacitação para mais de 20 estudantes de universidades públicas e privada na manhã desta sexta-feira, 11 de maio, durante a realização do I Workshop de Capacitação do Ponto Focal Pará, que aconteceu na Universidade Federal do Pará (UFPA).

A coordenadora da área, Professora Dra. Bianca Bentes, ressaltou que “este passo inicial reuniu toda a equipe que vai trabalhar nessa missão”. O grupo vai direcionar esforços para a coleta de dados etnoecológicos, ou seja, quem tem origem no conhecimento ecológico local das populações tradicionais de pescadores sobre a biologia e ecologia de Epinephelus itajara, o mero. “A ideia é pulverizar conhecimento, formar esses alunos para que atuem em atividades de campo catalogando as informações que a gente pretende investigar. Na verdade, a ideia do projeto Meros do Brasil vai muito além da ideia de educação ambiental. Estamos trabalhando agora a parte científica na costa Norte do Brasil”, destacou.

Bianca Bentes contou que o Projeto Meros do Brasil vem experimentando um crescimento significativo sob todos os aspectos. Até meados de 2013, o desenvolvimento do projeto estava mais direcionado para estados no Sul e parte do Sudeste do país, com dois pontos focais no Nordeste. “No Pará, éramos um pontinho apenas. Mas agora estamos fortalecendo nossas ações e atuação, reunindo parceiros importantes como o Museu Goeldi, a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e a Universidade da Amazônia (Unama)”, pontuou, realçando que a ampliação vai favorecer o aumento da área de estudo, pesquisa, conservação, a partir da definição de metodologias para “se chegar aos resultados pretendidos”.

As metas e resultados são bem claros e definidos.  A coordenadora relata que “como o mero é uma espécie extremamente sensível tanto à atividade pesqueira quanto atividade recreativa, a ideia primeiramente, com o estudo etnoecológico, é definir as áreas de agregação”. “O mero é um bicho que forma cardumes para reprodução, então ele fica ainda mais vulnerável às atividades pesqueira e turística. Queremos identificar essas áreas por meio do conhecimento ecológico local, com pescadores e comunidades tradicionais. A partir daí, vamos validar essas áreas, porque não são áreas perenes, são áreas que são temporárias”, esclareceu.

Depois de identificar, o grupo vai trabalhar na conservação desses pontos, mas sem esquecer da educação ambiental, promovendo a conscientização sobre a conservação dos meros. “Temos muita resistência por parte do setor pesqueiro, inclusive pela pesca de larga escala, que é a que causa um impacto muito grande. O nosso maior desafio vai ser esse, sensibilizar e fazer com que este setor saiba que a ação deles é muito impactante”, completou Bianca.

O supervisor do Ponto Focal Pará, professor Dr. Tommaso Giarrizzo, acredita que capacitações como a que ocorreu nesta sexta, 11 de maio, permite que o projeto não fique restrito à realização de pesquisa ou faça a educação ambiental. “O maior ganho é essa preocupação também na formação de alunos, a partir de técnicas que não são comumente passadas durante a graduação”, replicou.

Tommaso Giarrizzo explicou ainda que essas atividades serão realizadas periodicamente para aprimorar continuamente o repasse de métodos e técnicas, possibilitando que os estudantes estejam sempre habilitados e aptos para atuar no Projeto Meros do Brasil, e que até mesmo possam replicar essas técnicas em outros projetos que tenham relevância para a conservação. “A essência é essa, de envolver alunos de diferentes universidades, e não apenas da UFPA, mas até mesmo universidades particulares, movimentando uma comunidade acadêmica abrangente, e a partir daí, produzir conhecimento em trabalhos de conclusão de cursos, mestrados, com dados que serão gerados pelo Projeto Meros do Brasil”, sublinhou o supervisor.

O Projeto Meros do Brasil conta com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. “Não podemos esquecer que esse patrocínio está sendo a alavanca para desenvolvermos pesquisas inéditas. Iniciativas como essa contribuem com a pesquisa e a conservação de espécies. A iniciativa é louvável e outras empresas de grande porte deveriam seguir esse exemplo. Sem o apoio da Petrobras a gente não teria como fazer nada. Através desse apoio, a Petrobras mostra que está comprometida com os processos ambientais também”, finalizou a coordenadora do Ponto Focal Pará.

Texto: Micheline Ferreira

Fotos: Micheline Ferreira

Qual o impacto que o tráfego constante de carros pode provocar no Parque Nacional de Jericoacoara? Essa é uma das perguntas que terão finalmente resposta com a conclusão dos estudos, a partir das amostras de sedimentos, que estão sendo avaliadas por um grupo de estudantes da disciplina Curso de Campo, do Programa de Pós Graduação em Ecologia Aquática e Pesca (PPGEAP), da Universidade Federal do Pará (UFPA).

O estudo deve ser concluído no inicio do segundo semestre  de 2018, segundo o Professor Doutor Tommaso Giarrizzo, que ministrou a disciplina no mês de março, com o auxílio dos monitores Fabíola Seabra e Oswaldo Junior, além dos apoios operacional e logísticos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Secretaria de Meio Ambiente e Turismo da Prefeitura Municipal de Jijoca e Cooperjeri.

O trecho amostrado e que vai esclarecer sobre o impacto de carros, motos, caminhões e jardineiras compreende aquele que vai da vila do Preá até a vila de Jericoacoara. A intenção é verificar se a compactação contínua do sedimento, a partir desse tráfego diário e permanente, reduz ou mantém a mesma quantidade de invertebrados aquáticos, ou se este número sofre alguma alteração, provocando composição diferente em função do trânsito frequente.

Tommaso Giarrizzo espera  que o estudo vai permitir ter uma leitura sobre um eventual impacto ambiental dentro do parque nacional. “Fizemos coleta de amostras de sedimentos nas quais são encontrados invertebrados aquáticos, e vamos comparar a composição, abundância e riqueza tanto nas amostras das praias onde passam carros como nas áreas onde não passam”, relatou.

Os estudantes de Mestrado do PPGEAP vivenciaram a prática de amostragens de invertebrados aquáticos, de peixes, além da estrutura de vegetação e presença de resíduos sólidos trazidos pelo mar, o lixo marinho. Todos os resultados dessas atividades têm como objetivo, também, auxiliar na gestão do parque, já que serão produzidos indicadores de como estão as diversas áreas protegidas, mas que nelas existem vilarejos como Jericoacoara, Preá, Lagoas Azul e do Paraíso, etc.

Outro estudo que foi realizado diz respeito ao primeiro registro da tilapia, peixe da familia Cichlidae, de água doce, nativo da África e que se tornou uma espécie invasora nas Américas do Norte e Sul. O peixe foi encontrado dentro do parque, o que segundo o professor Tommaso Giarrizzo ocorreu em razão do rompimento de um tanque de cultivo em ambientes naturais.  A tilápia é cultivada no país através de piscicultura.

O grupo de estudantes também fez o resgate de cavalos marinhos em uma área de lagoa que sofreu repentina drenagem. De forma inesperada, uma lagoa teve a barra de contenção rompida e secou em apenas três horas deixando peixes e outras espécies fora da água. Mas graças à rápida e eficiente ação dos mestrandos da UFPA os danos foram minimizados. “Não podíamos soltar os cavalos marinhos no mar porque não teriam como sobreviver. Então a equipe da disciplina fez o resgate e realocou os cavalos marinhos no mangue da região, que ficava a 25 km de onde ocorreu o fato, em parceria com o ICMBio, e onde já sabíamos que lá se tratava de um habitat apropriado para a espécie”, explicou o ministrante da disciplina Curso de Campo.

Outra atividade bem produtiva para os estudantes foi a análise da estrutura do bosque de mangue do parque nacional, no qual puderam avaliar desde o tamanho das árvores até mesmo a composição ao longo de um trecho de um canal de maré, que tem grande relevância e onde é realizada extensiva atividade de ecoturismo. Durante todos os dias em que estiveram em Jericoacoara, o grupo promoveu seminários para debater e estudar as várias situações encontradas durante as coletas e pesquisas. “Agora estamos na fase de analisar as amostras e depois vamos partir para a produção de relatórios, que serão publicados em revistas nacionais e internacionais, mas que principalmente serão encaminhados para os gestores dos órgãos competentes do parque nacional”, finalizou Tommaso Giarrizzo.

Texto: Micheline Ferreira